segunda-feira, 8 de abril de 2013

O GOSTO PELA PRIVACIDADE... DOS OUTROS.


Texto publicado no Jornal O Guaíra em  06-4-13 - coluna Opinião 

Maria Eugenia Firmino Brunello é enfermeira, Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade de São Paulo. 

O ser humano é engraçado e acima de tudo contraditório. A avalanche de críticas a programas televisivos que nos permitem saber e acompanhar o cotidiano e a privacidade das pessoas vai de encontro com a sede dessas mesmas pessoas em criticar, analisar e julgar comportamentos alheios no nosso dia-a-dia. 
Sob o véu de uma discussão de moral religiosa misturada com uma moral social, ultimamente, estamos imersos em opiniões sobre a preferência sexual do outro. Em meio a tantos “Marcos Felicianos, Bolsonaros e Joelmas”, o que se vê é uma classe política e artística preocupada com o que acontece ou deixa de acontecer entre quatro paredes, envolvendo a libido e a fantasia das pessoas, ressaltando, em sua privacidade.
É de se espantar que homens e mulheres públicas, e no caso dos deputados, políticos que se sustentam com o dinheiro do contribuinte, se ocupem de propagar não só opiniões bizarras e questionáveis, mas, o pior e mais grave de tudo isso: propagam a intolerância.
Por trás de uma falsa moral religiosa baseada em interpretações “particulares” retiradas da bíblia, mesma bíblia que conta a história de um Homem que dividiu a mesa e o ar ambiente com prostitutas e cobradores de impostos, o que se vê, são pessoas “pregando” o cerceamento da liberdade individual de cada um, ocupados muito mais com o tipo de prazer que o outro sente do que com assuntos que realmente atingem a coletividade.
A cantora de voz aguda, Joelma, não foi traída apenas pela “Lua”, mas foi traída pela língua ao comparar gays com viciados em drogas, mas esta ainda, sem o agravante de ser sustentada oficialmente com dinheiro público e não ter como obrigação moral e legal a preocupação com a sociedade de eleitores e não eleitores, mas também apoiada em convicções religiosas. 
A verdade é que a pregação da intolerância e não da opinião, pois, há uma diferença, alicerçada na palavra de Deus, deve incomodar e muito o próprio Criador que vê suas criaturas levando à frente discussões regadas de ódio e discriminação enquanto tantas outras criaturas suas morrem em filas de hospitais por falta de médicos, tantas outras sofrem com a seca, tantas outras perdem suas vidas por quedas de barreiras e deslizamentos de terras. 
Encarar como problema nacional o que diz respeito à privacidade das pessoas nada mais é que transformar a vida num grande Big Brother fadado a mandar as minorias ao paredão enquanto o coletivo submerge ao segundo plano.
Outro ponto preocupante é perceber representantes do Legislativo muito ocupados em ditar regras religiosas num Estado laico, usando o nome de Deus em vão para se eleger e utilizar tudo isso como pretexto para impor regras de comportamento que não afetam a sociedade em si, mas apenas a privacidade de alguns. 
Caros, devemos mesmo nos preocupar não com o que acontece à meia luz de um quarto qualquer, mas sim com o que acontece à luz do dia, em escritórios bem iluminados e climatizados com ar condicionado. São dentro destes estabelecimentos que o Brasil tem “seu leme”, que o Brasil toma seu rumo. São dentro desses estabelecimentos que, de fato, as minorias não têm vez e isso sim, é grave.